Iniciais em caixão ajudam a localizar restos de autor de 'Dom Quixote'
17 Mar 2015
11h23
atualizado às 11h30
Peritos afirmam ter encontrado os restos mortais do escritor espanhol Miguel Cervantes, o autor do clássico da literatura universal Dom Quixote.
A descoberta foi anunciada nesta terça-feira em Madrid. Segundo os peritos, fragmentos da ossada de Cervantes foram localizado no subsolo do Convento das Trinitárias, no centro de Madri; seus restos mortais estão misturados com os de dezenas de outras pessoas, incluindo a esposa do escritor.
A localização dos restos mortais de Cervantes não era um mistério absoluto. Havia registros de que ele tinha sido enterrado no convento. No entanto, desde a morte do escritor, em 1616, o prédio fora reconstruído e não se sabia se a ossada havia sido removida do local.
Por isso, o time de 30 pesquisadores precisou usar câmeras infravermelhas, scanners 3D e mesmo um radar especial para tentar localizar os restos de Cervantes. Em janeiro, toparam com a tampa de um caixão com as iniciais "MC" num grupo de 33 câmaras mortuárias.
Soldado e escravo
Mas os peritos avisam que será muito difícil separar os fragmentos do das outras pessoas enterradas no local.
"As ossadas estão em mau estado de conservação e não permitem uma identificação individual de Miguel de Cervantes", disse à BBC a cientista forense Almudena Garcia Rubio.
"Mas estamos certos de que se trata do local em que estão enterrados Cervantes e outras pessoas".
Análises mais detalhadas poderão possibilitar a separação dos ossos de Cervantes se os peritos conseguirem realizar testes de DNA para descobrir quais ossos não pertencem ao autor de Dom Quixote.
Numa entrevista coletiva, o perito Luis Avial disse que Cervantes terá um novo funeral com honras de estado, também no Convento das Trinitárias, e ganhará uma nova sepultura.
"Cervantes pediu para ser enterrado no convento e lá deve permanecer", afirmou Avial.
A ordem religiosa das Trinitárias ficou famosa ao ajudar a pagar o resgate pedido por piratas que o sequestraram durante uma viagem de navio pelo Mediterrâneo, em 1575 - Cervantes ficou cinco anos preso na capital da Argélia, Argel, trabalhando como escravo.
A experiência, por sinal, serviu de inspiração para um trecho de Dom Quixote. A obra só começou a ser publicada em 1605.
Segundo planos do convento e da prefeitura de Madri, que financiou as operações de localização dos restos do autor de olho no potencial interesse turístico da descoberta, a cripta em que Cervantes foi enterrado será aberta ao público no ano que vem para coincidir com o 400º aniversário da morte do escritor.
A busca pela tumba envolveu até o uso de um radar especial e de câmera infravermelhas
Para o secretário municipal de Artes, Esporte e Turismo, Pedro Corral, o projeto teve como objetivo não somente encontrar os restos mortais de Cervantes, mas "honrar sua memória e estimular o público a aprender mais sobre ele".
Se hoje é um dos mais celebrados nomes da literatura universal - Dom Quixote é uma mais vendidas obras de ficção da história - Cervantes morreu pobre e em relativa obscuridade. Um destino diferente do que teve o dramaturgo e poeta britânico William Shakespeare, que também faleceu em 1616 mas já era celebrado no seu país.
"O fim de Cervantes foi o de um homem pobre", disse Corral.
Por outro lado, Cervantes, nascido em 1547, parece ter tido uma vida rica em aventuras; não apenas viajou bastante, como também esteve em combate.
Participou da legendária Batalha de Lepanto, em que uma coalizão de reinos europeus derrotou o Império Otomano na Grécia, em 1571.
Embora tenha sido ferido gravemente na batalha e perdido os movimentos do braço esquerdo, Cervantes continuou na carreira militar ser aprisionado pelos piratas.
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